Um passo a passo com exemplos e respostas comentadas para ajudar quem está participando de processos seletivos.
“Construir times fortes e diversos” é um dos pilares de valor do Nubank – e garantir que ele se sustente é um trabalho diário, que envolve toda a empresa e começa assim que abrimos novas vagas.
No Nubank, não existe um único processo seletivo padronizado: cada área ou chapter (como a gente chama as funções por aqui) pode ter etapas diferentes – e elas variam dependendo de cada posição.
No caso dos Business Analysts, ou analista de negócios, e dos Financial Analysts, ou analistas financeiros, o processo seletivo tem um elemento que costuma gerar muitas dúvidas: as case-interviews , um tipo de dinâmica bastante comum no mercado.
A case-interview , ou simplesmente o case, é um momento para avaliar a capacidade de raciocínio lógico, as habilidades técnicas e comportamentais, o business sense e também a forma como o candidato reagiria a situações do dia a dia.
Abaixo, a gente detalha como ela funciona.
1. O que é um case?
Um case nada mais é do que um problema ou situação real de negócio. Ele pode ou não ser inspirado em desafios específicos do Nubank – mas o exemplo em si é o de menos: independentemente da história descrita, o modo de resolvê-la durante a conversa é o mais importante!
Quando a gente agenda um case interview, o que queremos é colocar a pessoa diante de um tipo de desafio comum dentro da área e ver como ela resolveria esse problema e tomaria decisões a partir dele.
Ao fazer isso, a gente consegue avaliar algumas características essenciais para lidar com a rotina de um BA no Nubank:
- A capacidade analítica e forma de raciocínio
- Se a pessoa é data-driven – ou seja, se toma decisões baseadas em dados
- Se fica à vontade lidando com números
- Se consegue entender sobre negócios e abordar o problema de maneira consistente.
2. Exemplo de case no Nubank
O melhor jeito de explicar o que é um case é justamente mostrando um.
Abaixo, temos um exemplo usado aqui no Nubank e algumas das respostas mais comuns dadas a ele. Esse tipo de análise pode ajudar a mostrar o que a gente considera uma boa resposta – e o que de fato está sendo avaliado.
“Case: você é manager em uma startup que vende comida saudável por delivery online. Hoje, você vende porções individualmente. A sua estratégia não está funcionando tão bem e vocês estão perdendo dinheiro. Você está considerando oferecer um serviço de assinatura onde os clientes pagariam anualmente e receberiam várias porções ao longo de todo ano.”
A primeira coisa que acontece em uma entrevista de case é a apresentação do contexto, ou seja, do problema que precisa ser resolvido. No caso acima, um delivery de comida que pretende disponibilizar pacotes anuais. Todas as perguntas que virão a seguir são sobre o contexto apresentado.
Pergunta 1: Quais dados ou quais pontos você gostaria de analisar para decidir se essa ideia seria viável ou não?
Nesse momento, é natural ter o impulso de responder rápido – mas isso não necessariamente é bom.
Normalmente, os candidatos que reservam um tempo para pensar e que primeiro estruturam seu raciocínio tendem a ir melhor, pois conseguem ser mais claros e assertivos.
Os cases são sempre uma conversa mas, abaixo, transcrevemos dois exemplos de respostas para exemplificar:
Candidato A : “ Eu pensaria muito na receita bruta. Imagino que nossos clientes atuais podem migrar para esse plano – que provavelmente vai ser menos rentável por cliente. Se a receita fosse cair, já seria meu primeiro receio. Uma outra coisa: as pessoas enjoam de comida. Elas provavelmente não iam conseguir manter essa vontade de comer a mesma coisa por tanto tempo então o plano de assinatura poderia ser uma forma de afastar nossos atuais clientes. Acho que se pudesse optar, iria seguir na linha atual. “
Candidata B : “ Para tomar essa decisão, eu tentaria responder outras duas grandes perguntas . É financeiramente viável? É possível de ser feito? Em um cenário onde essa duas respostas são positivas, seria um bom indicativo para iniciar nossa nova tática. A pergunta “é financeiramente viável” poderia ser respondida tentando entender os clientes, o tamanho do mercado e possível crescimento deste tipo de demanda. Os competidores… Bem, se tivermos muitos competidores grandes nesse setor, eu refletiria se conseguiríamos bater de frente. Também levaria em conta a canibalização do nosso produto atual, uma vez que os clientes podem migrar para esse plano. Gostaria de deixar o adendo: o fato de entendermos uma demanda até o fim do ano facilita nosso controle de estoque, sobras e mesmo a logística de entrega. Acredito que é possível ser feito, mas a decisão tem mais a ver com se a gente consegue lidar com essa mudança para o novo produto. Conseguiríamos manter a qualidade da comida e entrega? Conseguimos lidar com uma possível variação de demanda? ”
Análise das respostas:
Candidato A : Ele fala sobre diminuição de receita que acontece em uma migração de plano. É razoável supor que algumas pessoas podem fazer isso – mas ele não considerou uma possível entrada de clientes novos que poderia desfavorecer essa balança. Depois, ele comentou que as pessoas enjoam de comer sempre a mesma comida como se isso fosse uma verdade para muitas pessoas. Se fosse o caso, não haveria uma empresa com esse modelo de negócio.
O problema aqui foi ter afirmado algo sem muito embasamento (será mesmo que muitas pessoas enjoam de refeições padrões semanais?) e tirar conclusões precocemente, sem tentar olhar o problema como um todo.
Candidata B: A resposta é muito mais completa. A candidata B conseguiu abordar melhor os pontos que levariam ao sucesso do produto. Sua resposta começa muito bem elaborada, dividida em perguntas essenciais para começarmos a entender o problema. Ao longo da conversa, ela levantou vários fatores que nos ajudariam a responder se a balança financeira faria sentido. Por fim, ela ainda lembrou que a mudança pode afetar processos e demandas e que vale pensar se há um plano para isso.
3. Como estruturar a resposta de um case?
Perguntas como a do exemplo acima ( Quais dados ou quais pontos você gostaria de analisar para decidir se essa ideia seria viável ou não ?), na qual o candidato precisa listar os principais fatores necessários para tomar um decisão em determinado problema, estão presentes na grande maioria dos cases.
O objetivo é ver se o candidato consegue mencionar todos os itens relevantes, priorizá-los, e explicar de uma forma clara a importância de cada ponto.
Um erro muito comum é reagir a esse tipo de pergunta discorrendo sobre as primeiras ideias que vêm à cabeça. O problema é que nem sempre essa sequência é a mais lógica ou a mais clara – o que torna o processo de acompanhar o raciocínio mais difícil e aumenta a probabilidade de esquecer alguns pontos.
Esse foi o erro do Candidato A, no exemplo acima. Para começar a estruturar uma resposta mais parecida com a da Candidata B, podemos seguir alguns passos simples:
Primeiro passo: entenda a pergunta
Antes de responder à pergunta, tenha certeza de que entendeu qual é o objetivo da mesma. Analise o que diz o enunciado com atenção. No caso do exemplo anterior, o enunciado diz que
- O negócio não está indo tão bem (está perdendo dinheiro)
- Uma nova estratégia está sendo considerada
Segundo passo: entenda o objetivo da pergunta
O que a pergunta dá a entender? Qual é o desafio real do case?
No nosso exemplo, o objetivo com o novo plano de negócio é ter uma empresa rentável , ou seja, ter lucro . Ainda assim, como o enunciado não é tão explícito, seria perfeitamente adequado se o candidato perguntasse se por “ideia viável” o entrevistador quer apenas saber se o negócio pode ser lucrativo ou se existem outras restrições de investimento.
É importante esclarecer esses pontos, pois pode haver casos em que o enunciado é apenas sobre aumento de vendas e receita – e não faria sentido o candidato perder tempo explorando formas de reduzir custos.
Antes de começar a responder, o candidato pode pedir alguns minutos para criar uma lista do que ele considera importante ter em mente na hora de responder. Isso pode ser feito em voz alta, conversando com o entrevistador, ou em silêncio – para ser dividido depois.
O importante é tentar criar uma estrutura completa de pontos que não devem ser negligenciados na hora de resolver o problema.
Voltando ao exemplo anterior, vamos supor que os principais fatores para essa situação são os descritos na imagem abaixo:
Todos os fatores são pertinentes para a questão, mas estão apresentados em uma ordem pouco clara. É possível que esse seja o fluxo natural de ideias de algumas pessoas – mas ele não é o mais lógico.
Uma alternativa bem simples para a organização do raciocínio nesse caso seria simplesmente dividir em vantagens e desvantagens, como na imagem a seguir.
Com apenas uma pequena segmentação o candidato já torna o seu raciocínio muito mais claro para o entrevistador. Observe que essa estrutura poderia facilmente ser adaptada para um contexto de lucratividade, dividindo em fatores que afetam o custo e fatores que afetam a receita.
Terceiro passo: segmente a resposta
Uma outra forma de divisão poderia ser feita de acordo com fatores que afetam a produção, a venda e o mercado, como na imagem a seguir.
- Produção : todos os fatores ligados à logística e planejamento da empresa;
- Venda : fatores que afetam diretamente a experiência do cliente e a precificação,
- Mercado : fatores ligados à concorrência e à demanda daquele segmento.
A vantagem de estruturar o pensamento é poder começar a explicação de forma mais direta. “ Eu gostaria de explorar alguns fatores a respeito de como essa decisão afetaria a nossa produção, venda e a nossa posição no mercado “.
Ao já começar levantando as três áreas que quer abordar, o candidato mostra que está pensando no problema como um todo , antes mesmo dos fatores serem citados. Além disso, esse tipo de organização permite que o candidato apresente uma lista exaustiva de tudo o que deve ser analisado em cada item.
Outro ponto positivo é a possibilidade de identificar falhas no raciocínio antes mesmo de começar a explicação. Olhando para as anotações, por exemplo, o candidato pode perceber que talvez esteja se preocupando pouco com o mercado e muito com a produção. Um outro fator que poderia ser acrescentado à lista, por exemplo, seria a demanda e a previsão de crescimento do segmento de planos anuais de entrega.
Existem várias formas de estruturação de cases, e é possível encontrar vários artigos e vídeos sobre isso na internet. Vale lembrar, no entanto, que não existe um único framework que funcione para todos os problemas. Além disso, o objetivo do case não é saber se o candidato decorou alguma estrutura, mas sim perceber se ele é capaz de ouvir um problema e pensar em uma forma de estruturá-lo que ajude a raciocinar sobre ele e a passar a mensagem para o entrevistador.
Isso se aplica não apenas à primeira, mas a todas as demais perguntas do case.
Por exemplo, no case acima, a Candidata B deu uma resposta bastante completa. Nesse cenário o entrevistador provavelmente a desafiaria com mais uma pergunta:
Pergunta 2. Imagine que você implementou essa mudança (modelo de assinatura de comida) . Como você traçaria um plano para saber se está valendo a pena?
Uma boa forma de planejar a resposta é destacar todas as variáveis que precisam ser levadas em conta:
Fatores financeiros:
- A receita da assinatura anual
- Os custos: fixos, de distribuição, de marketing, canibalização de produtos.
- O lucro final: mesmo que o custo seja baixo ou receita enorme, é importante levar o lucro em conta na análise desse case.
Fatores não financeiros:
- A satisfação do cliente com o produto.
- O tempo de entrega e a eficiência da logística.
Lembrando que, ao falar de fatores financeiros, olhar o cenário completo é essencial. Apesar de parecer simples, muitos candidatos acabam abordando receita ou custo de forma individual e acabam esquecendo que o mais importante é a combinação dos fatores. “O custo caiu pela metade com a mudança, mas quase nenhum cliente aderiu” ou “Muitos clientes aderiram, mas o custo aumentou, não conseguimos prever adequadamente as novas demandas e gerir a logística” .
Nesses dois exemplos, fica claro que, abordando apenas um dos temas, o candidato poderia tomar uma conclusão errada sobre a situação.
Abaixo, ilustramos um framework financeiro de como essa linha de raciocínio completa poderia ficar:
4. O que é avaliado em um case?
Seguindo o exemplo do case deste post, até agora, o candidato já pôde demonstrar várias habilidade técnicas e capacidade de raciocínio lógico.
Nesse ponto, o entrevistador vai além e fornece alguns números para análise – o que permitirá uma avaliação mais completa dessas habilidades.
Pergunta 3. “Você chegou a falar um pouco sobre fatores financeiros e queremos descobrir o número de assinaturas o necessárias para atingir o breakeven. Como podemos fazer isso?”
O breakeven é uma expressão em inglês que designa o ponto de equilíbrio nos negócios em que não há perda nem ganho – nem lucro nem prejuízo.
É importante que o candidato pergunte pelos dados levantados no framework da questão anterior. Podemos fornecer uma tabela ou apenas citar alguns dos números do case – como o custo fixo, o valor da assinatura, o custo de produção e distribuição de cada refeição.
Nesse momento o que será avaliado no candidato é a facilidade com números e com estruturação de problemas.
A resposta dessa pergunta será um número de assinaturas, e você pode inclusive usar a calculadora pra chegar nela. Mas o importante não é o valor em si, mas o raciocínio elaborado na resolução do problema.
Alguns candidatos hesitam antes de partir para as contas, mas é exatamente isso o que é esperado das pessoas: que elas façam as contas.
O primeiro conselho para não se perder é anotar o seu objetivo em um papel. Alguns candidatos esquecem qual é a pergunta inicial – que, no caso, é: “ número de inscritos para o breakeven”.
Outra dica importante é ouvir a pessoa que está conduzindo a entrevista. É normal que ela te peça para desconsiderar alguns fatores ou números em algumas partes da resposta para que o case flua mais facilmente.
Uma boa prática para se conectar melhor com o entrevistador durante essas parte numérica é compartilhar com ele como você vai abordar o problema e as contas que irá fazer para chegar ao resultado.
O objetivo do entrevistador é facilitar o processo, confirmando quando algo faz sentido e guiando caso esteja se perdendo no raciocínio ou esquecendo de algo.
Nesse exemplo de case de assinatura de alimentos, por exemplo, uma próxima pergunta poderia ser:
Pergunta 4. “Você lançou o produto e eventualmente não conseguiu o número de clientes esperado nos primeiros meses – ou seja, o próprio custo por cliente está subindo. Quais seriam possíveis saídas para essa situação, dado que redução de custo não é uma opção”.
O objetivo aqui é sentir se o candidato tem noções básicas de negócios e entende que esse tipo de decisão envolve centenas de fatores.
Por exemplo:
- Aumentar ou reduzir o preço da assinatura é viável? Quais os resultados?
- Vale investir esforços para trazer mais clientes?
- É melhor desistir do produto?
Nesses exemplos o candidato poderia até falar sobre o que considera pontos positivos e negativos para cada uma dessas situações.
Em muitas etapas do case não necessariamente existe uma resposta certa . A lógica, o raciocínio e a capacidade de estruturar os problemas são muito mais importantes, bem como a forma de articular os pontos levantados.
Por isso, nós não buscamos pessoas que saibam resolver o problema específico apresentado: buscamos pessoas que entendam a complexidade e saibam ponderar, de forma sensata, os pontos positivos e negativos de cada decisão.
A case interview é uma parte fundamental do nosso processo seletivo. Ela ajuda o Nubank a entender como as pessoas lidam com situações do dia a dia muito comuns à rotina de BAs e FAs – além de ser muito importante para avaliar se um candidato se encaixa nas expectativas da vaga e na nossa forma de trabalho.
Com esses exemplos acima, a gente espera ajudar quem está participando de processos seletivos com case interviews a se prepararem melhor.
Afinal, o nervosismo e a falta de experiência com esse tipo de entrevista podem acabar atrapalhando pessoas muito bem preparadas para os desafios que a gente enfrenta por aqui.
PS: Provavelmente algum de vcs já leram isto em algum lugar, sim pq eu apenas peguei do blog da Nubank, porém acho justo compartilhar conteúdos deles aq, pois afinal bem pouca gente conhece o blog e acompanha tudo oq se passa lá, e como a comunidade tem mt gente nova aparecendo aq, resolvi “repostar” 1 post deles aq por semana. Ñ me julguem ._.