Bancos passarão a oferecer crediário no cartão de crédito
Os bancos passarão a oferecer uma nova linha de parcelamento no cartão de crédito. A intenção é substituir o crediário sem juros praticado pelos lojistas, a prazos mais longos. As compras no débito e à vista no crédito continuarão disponíveis, mas o novo crediário – com juros – será oferecido como uma alternativa às compras parceladas nas lojas.
O consumidor que optar pela modalidade terá três opções de parcelamento no momento da compra e poderá escolher a mais vantajosa pelas próprias “maquininhas”.
Será possível simular as taxas e prazos do crédito por meio dos equipamentos, de acordo com a Abecs, entidade que representa os emissores de cartões e ajudou a idealizar a implantação da linha.
As prestações do crediário costumam variar de duas a 12 vezes, dependendo do varejista. Hoje, há um prazo de 30 dias para o lojista receber o pagamento das compras no crédito, parceladas ou não. Pela nova modalidade, o lojista receberá os recursos da compra de forma antecipada, em até 5 dias. O risco da operação ficará com o emissor do cartão.
Para o presidente da Abecs, Pedro Coutinho, uma das expectativas é que o consumidor consiga negociar um desconto com o varejista, já que ele vai receber antes o valor total da compra.
Condições
Segundo a Abecs, os juros e os limites do crediário no cartão serão definidos por cada instituição financeira, de acordo com o perfil de risco do consumidor. Quatro bancos já aderiram a modalidade: Bradesco, Itaú, Santander e Votorantim. Nubank não vai participar.
Cielo, Gerber e Rede são as três credenciadoras que já implementaram o produto. Na Cielo, a habilitação estará completa até maio.
Novo ‘crediário’ no cartão de crédito exige atenção do consumidor; veja simulações
O consumidor que fizer compras parceladas pelo cartão de crédito com juros – modalidade lançada esta semana pelos bancos –, poderá escolher prazos mais longos que os oferecidos no crediário tradicional. Para educadores financeiros, a linha dará mais transparência à relação de consumo, mas eles alertam que o maior número de prestações eleva o custo total.
Os principais bancos passaram a oferecer a nova forma de parcelamento, no momento da compra, por meio das “maquininhas” do cartão de crédito. A intenção é substituir o antigo “10 vezes sem juros” oferecido pelos lojistas, com a promessa de prazos maiores e estímulo a descontos.
Simulações
Uma simulação feita pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) a pedido do G1 mostra que uma compra de R$ 1.000 no cartão, parcelada entre 12 e 36 vezes – prazos mínimo e máximo fornecidos pelos bancos – gera um custo adicional que varia entre R$ 65,48 e R$ 193,76 , respectivamente, se os juros forem de 0,99% ao mês (os mais baixos anunciados).
Mas se as taxas forem as mais altas, de 3,99% ao mês, a compra no valor de R$ 1.000 parcelada nestes mesmos prazos fica de R$ 277,88 a R$ 901,16 mais cara – um acréscimo de até 90% no custo total ( veja abaixo todas as simulações ).
Compra de R$ 1.000,00 parcelada no cartão*
Prazo | Juros ao mês | Valor da parcela | Custo total |
---|---|---|---|
12 meses | 0,99% | R$ 88,79 | R$ 1.065,48 |
12 meses | 1,99% | R$ 94,50 | R$ 1.134,00 |
12 meses | 3,99% | R$ 106,49 | R$ 1.277,88 |
24 meses | 0,99% | R$ 47,02 | R$ 1.128,48 |
24 meses | 1,99% | R$ 52,81 | R$ 1.267,44 |
24 meses | 3,99% | R$ 65,52 | R$ 1.572,48 |
36 meses | 0,99% | R$ 33,16 | R$ 1.193,76 |
36 meses | 1,99% | R$ 39,17 | R$ 1.410,12 |
36 meses | 3,99% | R$ 52,81 | R$ 1.901,16 |
Fonte: Anefac
** Cálculo feito com base nos valores fornecidos pelos bancos: taxas de 0,99% a 3,99%/até 24 vezes (Bradesco) e a partir de 1,99%/até 36 vezes (Santander) - os demais bancos não forneceram os valores. Itaú, BB e Votorantim oferecem prazo de até 24 meses.*
‘Parcela sem juros não existe’
Para o educador financeiro André Massaro, o consumidor será favorecido ao saber o quanto de fato estará pagando pela dívida – já que, segundo ele, não existe compra parcelada sem juros.
“Quando um comerciante faz o preço sem juros, está na verdade embutindo todo o custo financeiro nas parcelas”, explica. "O fato de não ter juros não significa que eles não estão lá, significa que estão escondidos”.
O diretor de relações institucionais e mídia da Proteste, Henrique Lian, diz ver uma “agenda pelo fim do parcelamento sem juros” na modalidade, embora o argumento dos bancos seja de uma alternativa mais barata ao crédito [em relação a outras linhas] e com uma possível tendência de quedas de juros.
Prestação menor tem prazo mais longo
A maior armadilha para o consumidor que parcela as compras é a impressão de estar pagando menos ao ver que o valor da prestação é baixo.
Na verdade, diz o educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil, quanto maior o número de prestações, mais juros se paga pela dívida. “Dá a impressão de que a parcela cabe no bolso, mas a conta final sempre vai ser maior”.
Calil acredita que a cultura dos parcelamentos mais longos pode incentivar o maior endividamento, mas não se deve encarar o cartão de crédito como o vilão do consumo, e sim a falta de educação financeira.
Massaro concorda que, se bem utilizado, o cartão pode ser uma ferramenta de controle financeiro, já que, se feita com consciência, a compra parcelada é muito melhor que entrar no rotativo do cartão, com juros muito maiores. “O problema não é o instrumento, é quem usa o instrumento”.
Veja os principais pontos do financiamento com juros no cartão:
- Alternativa ao crediário dos lojistas, com juros;
- Promessa de prazos mais longos (opção de mais parcelas);
- 3 opções de parcelamento disponíveis;
- Contratação no momento da compra, pelas “maquininhas”;
- Lojista transfere o risco de crédito para o banco;
- Comércio recebe os recursos em até 5 dias;
Incentivo nos descontos à vista
Para Lian, da Proteste, a expectativa é de que a nova forma de crédito estimule a cultura dos descontos no pagamento à vista. “O consumidor vai ter que ficar muito mais atento e o varejo vai ter que se precaver, porque a pressão por descontos vai crescer”, diz.
Na visão de Massaro, os comerciantes que oferecem o parcelamento sem juros não costumam aceitar descontos no pagamento à vista, alegando que o preço já está baixo. “Na verdade, quem paga à vista acaba subsidiando essas parcelas”, diz o educador financeiro.
Fonte: G1/Economia