Conto: O terror da organização pessoal

Mais uma vez a insegurança tomava conta de meus pensamentos. Como organizar minha vida, as tarefas, as contas? Eu já chegava no ponto de fazer assimilações com ser halloween, pois realmente parecia que vivia num terror. O dinheiro, sempre insuficiente, e as obrigações, sempre crescentes. Há escapatória?

Enquanto olhava pro teto em busca de respostas, o tempo passava. Com o tempo passando, a mente mandava lembretes contínuos de que eu não estava fazendo nada para efetivamente resolver meus problemas e assim, entrava num looping que ampliava minha sensação de impotência. Já se sentiu assim? Como se a porta estivesse sempre mais longe do que você pode alcançar para abri-la?

Bem, pois eu cansei e era hora de enfrentar meus medos. A terapia, apesar de claramente necessária, era financeiramente inviável naquele momento. Então eu fiz o que todo mundo faz numa situação dessas: reclamar da vida com amigos.

O que aconteceu foi sinceramente desapontador de tão simplório. A gente recebe uns “ah, poxa” e “vai ficar tudo bem” porque afinal, o que poderiam fazer? Resolver minhas coisas e me deixar em dia com o Nubank que não iriam. Além do mais, estavam todos já abarrotados com seus próprios problemas para lidar com ainda mais. Pelo menos externalizar ajudou um pouco dessa panela de pressão.

A exaustão veio e me deitei, nada concluído e, em meus sonhos, me imaginava caindo a grande velocidade num longo poço que parecia sem fundo, até que diversas cordas foram me segurando e me enrolando. Uma clara analogia de como eu estava enrolada com as coisas, pois o roteirista de minha mente não era muito criativo, só bastante incômodo.

Acordei num susto e a irritação veio: é isso, eu vou resolver isso hoje custe o que custar.

> PARTE 2

Eu estava com a maior arma possível contra o medo: raiva, muita raiva. Eu sequer tinha tomado café da manhã, mas uma dose de adrenalina circulou por todo o meu corpo e estava preparada para a guerra. Sabe como no fim de toda história de terror a mocinha decide bater de frente com o monstro? Prazer, eu.

É como se problemas intransponíveis fossem se dissipando em minha frente, tudo parecia irrisório neste momento. Afinal, somente eu sabia exatamente quais eram meus problemas. Ninguém poderia defini-los melhor, então eu puxei o primeiro papel e caneta que achei nas bagunças de casa, que por algum motivo estavam embaixo de minhas meias, e fiz deles minha espada e escudo.

A primeira coisa que pensei foi “quais são os meus problemas?” e escrevi exatamente assim na primeira linha, mas eu não me concentrei por muito tempo porque ficava olhando a desordem do quarto. Então escrevi “1. Minha casa pede socorro”, e a resposta era meio óbvia, não é? Bastava a vassoura e agrupar tudo em seus respectivos locais, para que eu não precisasse mais usar meias de cores diferentes todo dia.

Ao final de uma hora eu tinha uma lista longa de coisas. Ficou evidente porque o monstro era grande em minha cabeça, pois eu não tinha noção do quão massivo ele era até realmente enumerar cada possível coisa que se pudesse imaginar e olhá-los nos olhos. Iam desde daquelas coisinhas que eu sempre adiava, como trocar o cano da pia, até as inadiáveis como meus trabalhos da faculdade.

Como claramente era impossível resolver tudo de uma vez e no mesmo dia, separei na seguinte ordem: o que deveria ser concluído de qualquer jeito, o que podia ser feito depois e por último o que, na real, eu podia só deixar para lá e não esquentar. Assim, eu preenchi um calendário com dois meses inteiros onde, um pouco a cada dia, algo sumia de vista, o que me deu ânimo para seguir. Ainda havia uma última luta: minha fatura do Nubank.

Pesquisei pela internet sobre o que fazer e parei na comunidade do Nubank. Abri um tópico por lá e, honestamente, não esperava que as respostas fossem ser mais elucidativas do que quando procurei meus amigos. “Não, não, você não vai pagar o mínimo”, diziam, “desse jeito você vai seguir na bola de neve”. Quando eu disse que não podia pagar mais, responderam “Entra em contato com o Nubank e parcela isso. Os juros são menores. Vê se não gasta com nada que não é essencial por enquanto e aproveita o décimo terceiro para quitar tudo que for possível”. E foi o que fiz.

Assim, venci cada luta. Não que novos problemas não tenham surgido, e para muitos deles eu tive ajuda dos amigos, mas, pelo menos, eu já sabia como enfrentá-los.

FIM

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Que aflição!!! Minha nossa, que tempos de tristeza e reflexões esta pessoa tá passando, minha nossa. Muito descontrole financeiro realmente chega a este ponto… de não conseguir dormir sossegado. Vala-me, já quero saber como esta pessoa irá driblar está situação e dizer: VENCIIIII!!

Tô gostando do suspense. Só tomara que o protagonista saiba onde tá entrando pra não se afundar mais, @OttoS.

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Dívidas, juros altos, raciocínios interrompidos, arroz grudado no fundo da panela que não solta, geladeira praticamente vazia, vizinhos gritando. Hora de acordar! :fire:

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É uma situação bem difícil, já passei muito tempo lutando pra tirar minha mãe da depressão, essa sua história é comovente , aguardo parte 2

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Já peguei minha pipoca.

sinal-da

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Eu imaginei uma atmosfera a la Donnie Darko. :skull:

28:06:42:12

donniedarko

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AMOOOOOO!

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Parte 2 no ar!

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AHAHAHAHAHA. Ícone? Com toda certeza! :rofl:

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Com certeza! haha :stuck_out_tongue_winking_eye:

Ao fim, eu descobrir que o melhor jeito para resolver os problemas não é outro senão enfretá-los de frente, um por um! Gostei do conto, @OttoS! :wink:

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