Vou escrever aqui um conto despretensioso, curto e original. Se alguém se interessar e quiser escrever qualquer feedback fique à vontade.
Rio Verde
Nunca gostei de água. Sempre fugi dos banhos e minha mãe tinha que brigar comigo para eu entrar no chuveiro e me limpar. Nos meus 30 anos de existência nunca fui para piscinas, não vejo motivo para molhar meu corpo. Não sinto a menor vontade de sentir meu corpo molhado. Eu não suo muito, então não fico com o corpo molhado nunca. E rio? Nem pensar, passo longe. O mar? Não obrigado, não suporto a areia e a maresia fustigando a pele. Nada disso, prefiro me manter seco. Água boa é água dentro do corpo, para se hidratar. Água na pele é um terror, tenho pavor disso.
Certa vez fui para Bonito, Mato Grosso do Sul, e fui conhecer os rios da região. Só olhar, é claro, vocês me conhecem, não sou de entrar na água. Estava sentado em um deque na beira do rio Formoso, apreciando a vista e deixando o tempo passar suavemente, sem pretensões, sem preocupações. Um grupo de turistas de Belo Horizonte estava brincando na água há horas, nas águas extremamente cristalinas e esverdeadas, enquanto cardumes de peixes de água doce enormes passavam de um lado para o outro. O grupo nadava e brincava, em meio a paisagem natural verde e cativante.
Olhei para o lado e vi um casal de pássaros cantar alegremente para quem quisesse ouvir. E eu estava ouvindo, e o que eu ouvi me assustou muito, fiquei apavorado. Os passarinhos estavam dizendo, repetidamente, “entra”, “entra”. Olhei para as águas e os peixes nadaram em círculos, me convidando a entrar. O espanto deu lugar ao encanto e uma chama lá dentro me incentivou a entrar. O deque tinha uma passarela, o único caminho para ir e para voltar. Olhei para trás e vi uma sucuri enorme, de um cinco metros, se arrastando lentamente na minha direção pela passarela.
Não esperei duas vezes, mesmo sem saber nadar saltei no rio pela primeira vez na vida e fiquei lá com o grupo de BH. Os passarinhos cantaram e eu juro que ouvi os sacanas falarem: “medroso”, “medroso”.