KDOL11
1° Fiagro que investe em ativos atrelados ao Dólar com o objetivo de gerar rendimentos mensais.
Um novo tipo de Fiagro (fundo que investe nas cadeias produtivas agroindustriais) está chegando ao mercado. Diferente de boa parte da indústria, que investe em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) indexados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário e principal indicador da renda fixa) ou IPCA (inflação), o Fiagro KDOL11 será o primeiro da categoria atrelado ao dólar.
O produto será negociado na Bolsa de Valores brasileira, a B3, com cotas a partir de R$ 100 e deve pagar dividendos mensais em reais isentos de Imposto de Renda. Para os analistas, é mais uma chance de o investidor diversificar o seu patrimônio em moeda forte e com a vantagem de ter rendimentos frequentes e não tributados. O produto estará disponível para todo tipo de investidores, incluindo pessoas físicas.
O fundo será gerido pela Kinea, casa que já possui experiência no agro. Ela tem outros fundos como o KNCA11, com R$ 2,2 bilhões de patrimônio e risco moderado, além do KOPA11, com R$ 358 milhões, que investe em CRAs de alto risco.
Atualmente em oferta pública, o KDOL11 busca captar pelo menos R$ 1 bilhão para chegar à Bolsa. O prazo para comprar as cotas é até o dia 15 de março. Para participar da emissão, o investidor precisará desembolsar no mínimo R$ 1.000 para adquirir 10 cotas. Já quando estrear, será possível comprar cotas individuais.
Onde o Fiagro vai investir?
Para garantir uma receita em dólar, o fiagro KDOL11 vai emprestar dinheiro para empresas exportadoras. Devem ser companhias com faturamento anual acima de R$ 500 milhões ou em torno de R$ 1 bilhão. O objetivo é iniciar as operações financiando entre 10 e 15 empresas, de capital aberto ou fechado. “São empresas exportadoras que atuam já há várias décadas, com expertise no seu ramo de atuação, governança forte, robustez financeira comprovada e que estão de fato preparadas para se financiar em dólar”, afirmou uma fonte próxima a operação.
Por se tratar de empresas robustas e consolidadas, o risco de dívida será baixo. Na lista de possíveis investidas, no plano de negócios, é possível encontrar, por exemplo, os segmentos de grãos, fruticultura, algodão, insumos defensivos, açúcar e etanol, soja, cooperativas de café, cooperativas de proteínas e trading (comercialização) de grãos. A ideia é não ficar preso a apenas um segmento do agronegócio e sim ter uma ampla diversificação.
Como o fundo irá pagar aos acionistas
Fiagro vai empresar dinheiro com vários modelos diferentes. Boa parte das dívidas do Fiagro será encapsulada nos CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) dolarizados, mas o fundo também poderá investir em outros instrumentos de financiamento, entre estes: LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) relativos a imóveis rurais, LCI (Letras de Crédito Imobiliário), LIG (Letra Imobiliária Garantida), também relacionadas ao agro, além de cotas de outros Fiagros. A dívida das companhias será determinada em dólares, aos quais será fixada uma taxa de câmbio, assim o valor quitado mês a mês será convertido em reais.
Enquanto a maioria da indústria de Fiagros trabalha com prazos indeterminados, o KDOL11 terá duração de sete anos. Isso significa que o fundo vai financiar as empresas exportadoras que deverão pagar suas dívidas até esse período.
Mensalmente, as companhias devem pagar juros ao fundo, já que os CRAs serão mensais, e o fundo vai distribuir esses pagamentos aos cotistas na forma de dividendos. Esse pagamento vai acontecer desde o começo da operação, descontadas as despesas do fundo. Mas, a partir do quinto ano, com os financiamentos sendo quitados pelas empresas, o fundo começará a devolver também o patrimônio principal aos investidores, corrigido pela variação cambial do período. A amortização terá fim no sétimo ano.
Os juros pagos mensalmente também terão efeito da variação do dólar. Contudo, o efeito principal da variação cambial estará na devolução do patrimônio. Se o dólar tiver valorizado acima do real nesses sete anos, o investidor receberá mais dinheiro.
O fundo não pretende fazer novas emissões para captar recursos no mercado. Mas não descarta fazer mudanças pontuais, caso enxergar oportunidade na venda de CRAs no mercado secundário. Caso novos financiamentos sejam realizados para novas empresas, todos terão seu vencimento até o sétimo ano de existência do fundo. “Mas girar a carteira não é uma necessidade, seria mais para garantir uma oportunidade”, diz a fonte.
E qual será o retorno?
O Fiagro estabelece como meta entregar anualmente aos investidores um retorno de variação cambial (US$) mais 5% ao ano. Os dividendos serão pagos aos investidores em reais, já convertidos, e não terão cobrança de imposto de renda. É importante lembrar que essas projeções podem variar conforme o cenário.
A gestora terá como regra de distribuição remunerar os seus cotistas sempre no 8° dia útil, com data de corte (data para garantir o provento) no último dia útil do mês anterior. Embora o fundo seja exposto à variação cambial, uma fonte consultada pela reportagem destaca que o dividendo não deve apresentar muita oscilação de um mês para o outro. O efeito da variação cambial será fortemente sentido na devolução do valor principal aos cotistas. O KDOL11 terá taxa de administração de 1,30% ao ano e não haverá taxa de performance.
Para quem é este fiagro?
Embora seja um produto disponível para todas as pessoas físicas, o Fiagro deverá atrair investidores que busquem uma proteção do seu patrimônio em dólar no longo prazo e que entendem o risco da exposição à variação cambial. Atualmente, o dólar está sendo negociado próximo a R$ 5. Imagine que um investidor aplicou R$ 1.000 (US$ 200) no KDOL11. Ele receberá dividendos todo mês, mas após sete anos, o dólar está cotado a R$ 7, então o fundo devolverá para ele R$ 1.400 reais. Além dos juros, ele terá um ganho de R$ 400. Mas se o dólar desvalorizar frente ao real nesses 7 anos, indo para R$ 3, no final da operação o investidor receberá R$ 600, tendo perdido R$ 400. “O investidor que entra neste fundo quer estar aplicado em dólares, independente do cenário da moeda”, acrescenta a fonte. Ou seja, o cotista precisa se sentir confortável com este risco.
Uma simulação da gestora mostra que historicamente o dólar se valorizou frente ao real. Um estudo com dados de 2010 até 2023, revela que o retorno histórico da moeda, acrescido da taxa de 5% ao ano foi de 464,7% (13,3% ao ano). Enquanto outros indexadores tiveram retornos bem menores, o CDI (244,7%), IPCA (123,5%) e Ibovespa (81,2%).
E é uma boa para investir?
Consultados pelo UOL Investimentos, analistas que acompanham o universo dos Fiagros apresentaram as suas opiniões sobre o novo produto. Danilo Carvalho, analista de fundos listados da consultoria Tio FIIs, destaca entre as vantagens a diversificação da carteira, com exposição ao dólar e ao agronegócio de forma simplificada por meio da Bolsa de Valores. Ele também cita a oportunidade de receber renda mensal isenta.
Já entre as desvantagens, o analista aponta que o fundo terá custos maiores, por conta da conversão dos pagamentos das empresas ao real. Com isso, as taxas podem ser maiores do que o praticado no mercado.
Outro risco é a concentração de empresas. Nem todas as companhias do agronegócio têm capacidade de se expor ao dólar ou fazer operações para um contrato na moeda estrangeira. “Esse tipo de empresa paga um prêmio menor porque são mais seguras”, observa Carvalho.
Os dividendos mensais, em consequência, podem até ser interessantes, mas não serão o foco principal. Rodrigo Medeiros, analista de FIIs e fundador do Desmistificando Research, acredita que os dividendos pagos pelo KDOL11 devem ser baixos, e não corrigidos pelo CDI ou a inflação. Medeiros estima que o fundo não entregue dividendos elevados, mesmo em cenários com dólar alto não deve ocorrer grande oscilação.
O conflito disso, na visão de Medeiros, é que o investidor de fiagros ainda está muito acostumado a olhar os fundos apenas pelos dividendos. Se ele tiver rendimentos menores do que outros ativos, poderia acabar vendendo as cotas, e isso faria com que as cotas se desvalorizassem. “Se o cotista entender adequadamente o produto e o prazo de duração do fundo não terá problema, mas infelizmente isso nem sempre acontece”, pontua.
Pode sofrer alguma instabilidade. Por ser indexado ao dólar, Bruno Viveiros, analista de fundos da Warren Investimentos, acredita que o Fiagro deve ser mais volátil, do que aqueles expostos ao CDI ou IPCA. O analista também aconselha aos investidores analisar se as dívidas das empresas estão expostas a commodities.“O investidor vai ter que enxergar o fundo como uma posição para ter o benefício da diversificação de patrimônio”, avalia Viveiros. O olhar deve ser para o longo prazo, porque no curto o analista acredita que a moeda americana deva entrar em uma tendência de baixa, diante da proximidade de queda dos juros nos Estados Unidos.
Esta não é a primeira vez que a indústria de Fiagros tenta colocar um produto dolarizado no mercado. Carvalho, do Tio FIIs, lembra que o Itaú Asset já tentou lançar um fiagro semelhante, o RURD11, que teve sua oferta cancelada por não atingir o montante mínimo de captação. Já o fiagro RURA11, também do Itaú Asset, possui uma pequena parcela do patrimônio exposta a CRAs dolarizados, destaca Carvalho. Os analistas acreditam que há espaço para este novo tipo de Fiagro ganhar força na indústria, embora ainda deva levar um tempo por se tratar de um produto mais sofisticado.
Site oficial: https://www.kinea.com.br/fundos/kinea-agro-income-kdol11/
Fonte da matéria: UOL Economia (KDOL11, primeiro fiagro dolarizado da B3 busca recursos; vale a pena?)