Continuando a discussão de Explicações a Comunidade - Nubank e Brasil Paralelo:
Olá! O seu ponto de vista deve ser levado em consideração.
Dito isso, seu argumento se baseia na separação clara e estanque entre bancos e política, e isso não é verdade. Itaú e Bradesco, por exemplo, doaram milhões de reais nas campanhas eleitorais de 2014. Além desse vínculo escancarado, lembre-se que poder político e poder econômico andam juntos. Outro exemplo de outro setor produtivo: Nos EUA, porque o lobby político pela venda de armas é forte? Em partes, pelo grande poder econômico das companhias que produzem armas e financiam políticos estadunidenses. E a bancada política ruralista brasileira, a favor de flexibilidade em normas ambientais e liberação de agrotóxicos perigosos, proibidos em outros países, é financiada e apoiada por quais grupos econômicos de poder? E João Amôedo, do partido novo, que antes de fundá-lo tinha vínculo com o Itaú e o Unibanco? Inclusive, o Novo foi fundado em 2011, mas seu vínculo no Itaú vai até 2015, como membro do conselho de administração.
Nota: os fins justificam os meios é uma consequência lógica do pensamento de Maquiavel. Recomendo a leitura do livro “o príncipe” para entender isso melhor, é um livro pequeno, impactante e revolucionário para a época. No caso, eu interpreto que seria usar de absolutamente qualquer meio, inclusive manipulação, perfídia, artimanhas, duas caras, etc, para se alcançar um fim. No caso, Maquiavel escreveu o livro dedicado ao governante italiano medieval Lorenzo Médici, cujo principado estava sob ameaça. Deu várias dicas de como conseguir o seu fim (permanecer no poder), por qualquer meio (portartar-se às vezes - e ele usa essas metáforas no livro - como uma raposa astuta que observa tudo e permanece na surdina ou como um leão forte para livrar-se dos perigos e usar a força bruta. A raposa é astuta e vê as armadilhas, mas não derrota os lobos. O leão é forte e não vê as armadilhas, mas derrota os lobos). Ainda, fala que para se manter no poder o governante pode ser temido (aboradagem preferencial da família Médici) ou amada. Pouco importa a escolha, o meio, o que importa é a permanência no poder. Dado isso, não há absolutamente nada de maquiavélico em encerrar a conta em um banco em boicote. Não é uma manipulação, perfídia ou uma ação com propósitos disfarçados. É um protesto claro, mostrando a insatisfação com certas ações do banco (políticas ou não).
Por fim, quanto ao impacto do boicote, eu só digo o seguinte: efeito dominó.
Se dois clientes abrem uma conta e gostam dela e eles indicam o banco para outras duas pessoas que também abrem a conta, temos 4 novos clientes. Se os quatro novos clientes, por sua vez, indicam o banco para outras 4 pessoas, então temos um total de 8 clientes. Ou seja, se começamos com 2 cliente e esse número dobra duas vezes, chegamos a 8 clientes (2 x 2 x 2) = 8.
Ótimo, se esse processo acontecer seguidamente por 64 vezes (a escolha não é aleatória: elevo o número 2 64 vezes por conta do número de casas do tabuleiro de xadrez e da lenda sobre o pedido do inventor do xadrez ao rei indiano que se apaixonou pelo jogo), matematicamente podemos chegar a 2 elevado a 64, que dá 18.446.744.073.709.551.616 de novos clientes, ou, por extenso, dezoito quintihões e quatrocentos e quarenta e seis quatrilhões e setecentos e quarenta e quatro trilhões e setenta e três bilhões e setecentos e nove milhões e quinhentos e cinquenta e um mil e seiscentos e dezesseis clientes.
Bem, a população total da Terra gira em torno de oito bilhões de pessoas, então nenhum banco pode ter esse número tão alto de clientes, por óbvio. Mas, o número demonstra o poder dos dois clientes satisfeitos que dobram o número de clientes ao indicar dois novos clientes que, sendo todos clientes satisfeitos, indicam cada um um novo cliente (4), dobrando o valor novamente (2 x 2 x 2). E por aí vai, em um efeito dominó.
Como o Nu chegou onde chegou, com 100 milhões de clientes em cerca de 10 anos? Em termos simples, com um bom serviço que deixou seus clientes satisfeitos, que então indicaram novos clientes que também ficaram satisfeitos. Eu mesmo, atualmente, sou um cliente satisfeito e indiquei novos clientes e fiz propaganda positiva gratuita.
Agora, notem que o efeito dominó é válido também para o cliente insatisfeito, e realmente não importa se o motivo da insatisfação é por conta do serviço ou de um viés ideológico e político. Ele é um cliente insatisfeito e possuí o direito constitucional de ter liberdade de escolha e de expressão. Então, de forma legítima e não maquiavélica, encerra a conta, cessa o vínculo e passa a incentivar que outros sigam o mesmo caminho e faz propaganda negativa gratuita do banco. Vi aqui um cliente insatisfeito que fechou a conta e afirmou que levou outros 5 a também fecharem a conta. Apenas 6 pessoas? E se cada um dos 6 na sequência dobrar o número de encerramentos de contas?
Quanto é 6 x (2 x 2 x 2… x 2, ou seja, 2 elevado 64)?
Bem, se eu me tornar um cliente insatisfeito eu irei sim fechar a conta e incentivar que outros sigam o meu caminho e farei toda propaganda negativa que puder, o que é legítimo. Isso não é inútil e insignificante, ainda mais considerando o efeito combinado de milhares de outros clientes insatisfeitos, pois pode se tornar uma bola de neve e desencadear um efeito dominó de fechamento de contas.
Finalmente, para mim, é inaceitável o Nu enquanto instituição alinhar-se com a extrema-direita. Nem o Nu e nem nenhuma empresa grande e com poder, pois as consequências podem ser catastróficas. Eu boicotarei todas elas. O episódio veículado na mídia sobre a cofundadora brasileira é de cunho pessoal, mas acende um sinal de alerta.
Empresa não é apenas lucro. É feita de clientes e está imersa na sociedade, por isso deve ter responsabilidade social e ambiental, guiada por bons valores compatíveis com uma sociedade justa, democrática e livre.
Nota: se alguém souber de uma grande empresa com atuação no Brasil alinhada institucionalmente com a extrema-direita por favor me informe. Agradeço.