Gostaria de começar parafraseando Alice Walker,
Nós mulheres precisamos nos mover ao som de músicas ainda não compostas.
Sinto que é exatamente isso que vivemos no mercado de trabalho, principalmente quando optamos por seguir carreiras onde a maioria dos cargos são ocupados por figuras masculinas. Existem poucas referências e poucos caminhos já traçados que possamos seguir.
E quando chegamos lá, quando conseguimos entrar no mercado que desejamos e trabalhamos tanto, muitas vezes somos sub julgadas recebendo tarefas menos importantes que colegas homens que ocupam os mesmos cargos, recebendo menos mérito por nossas entregas. Ou sub julgamos a nós mesmas, internalizando o que vivenciamos e acreditando que não merecemos estar onde estamos. Além disso, é difícil crescer. Se olharmos para a estrutura de muitas empresas, quanto maior o poder e o salário do cargo, menos mulheres vemos nele.
É importante dizer que o mercado de trabalho mudou muito para nós nas últimas décadas, muito foi conquistado, mas não tudo (ainda). A melhor forma de conquistar e ocupar os lugares que faltam é encarar o problema dentro das empresas, falar sobre a ausência das mulheres para combatê-la e criar incentivos para que mulheres entrem no mercado de trabalho superando todos os desincentivos que elas vão cruzar.
Hoje gostaríamos de compartilhar com vocês, através de uma entrevista, a jornada da Flávia, que está em construção e já passou por muitos desses pontos que são conhecidos por nós em sua trajetória. Esperamos reconhecer o trabalho e esforço dela e, quem sabe, incentivar outras mulheres que tenham metas igualmente ambiciosas. E eu espero que nós mulheres sempre tenhamos metas ambiciosas.
1. Antes de mais nada, se puder falar um pouco sobre você? Nome, idade, formação? Quanto tempo de Nubank?
Meu nome é Flávia (Avelino da Silva), tenho 27 anos e sou formada em Sistemas de Informação pela PUC-SP. Trabalho no Nubank a 1 ano e 5 meses.
2. Sobre sua área de trabalho. Eu vi uma pesquisa da USP falando sobre como apenas 6% dos formados em Engenharia da Computação eram Mulheres. Em Sistemas de Informação o número era de 10%, e em Ciências de Computação 9%.
Uma outra pesquisa da Universidade Federal do Paraná fala sobre como quase metade das mulheres nos cursos de tecnologia não sentiam que tinham apoio familiar para continuar no curso.
Sobre isso, como foi essa sua jornada dentro da sua área de atuação. Pensando na Faculdade, apoio familiar.
Eu pensei que gostaria de trabalhar com TI ainda no ensino fundamental. Na época, eu não fazia a menor ideia de como os softwares eram feitos, mas eu achava incrível tudo que era possível fazer com computadores e queria muito entender como aquilo funcionava.
No ensino médio, eu estudei numa escola técnica que oferecia o curso de Técnico em Informática. Essa foi a minha primeira experiência na área e já nesse curso eu pude perceber a grande diferença na quantidade de homens e mulheres: dos 40 alunos, 10 eram mulheres.
Concluído o ensino médio, eu ingressei na faculdade de Sistemas de Informação. Não para minha surpresa, dos também 40 alunos da turma, apenas 4 eram mulheres. Pessoalmente, eu sempre recebi apoio da minha família para estudar o que eu tivesse interesse mas, embora eu não tenha sofrido com a falta de apoio familiar, presenciei casos assim.
Uma das minhas colegas de faculdade, por exemplo, contou que o pai se recusou a pagar a faculdade dela porque ele achava que Sistemas de Informação era um curso “de homem”. Se ela tivesse optado por outro curso, ele pagaria. Felizmente, no caso dela, ela não se deixou abater pelo desencorajamento e conseguiu um financiamento para pagar a faculdade, mas tenho certeza que muitas outras mulheres enfrentam situações parecidas e são obrigadas a desistir.
3. Como foi seu início de trajeto no mercado de trabalho. Alguma experiência em alguma outra empresa que tenha sido desafiadora?
Eu comecei a trabalhar com 17 anos, já no meu primeiro ano de faculdade. Era uma empresa de TI bem pequena e eu comecei atuando numa posição de suporte. Os clientes ligavam para reclamar que alguma coisa não estava funcionando, ou tirar dúvidas sobre o software que a empresa vendia. Eu considero que essa foi a função mais desafiadora que eu já desempenhei, porque você precisa ter muita desenvoltura para lidar com clientes e prestar um bom atendimento (grande KUDOS para os Xpeers que arrasam nisso). Algum tempo depois, abriu uma vaga para desenvolvedor de software nessa mesma empresa e eu consegui migrar de função. Eu era a única mulher desempenhando a função de programadora e continuei sendo a única até o momento que eu saí de lá, cerca de 1 ano e meio depois.
Meu próximo emprego também foi numa empresa de TI, um pouco maior e mais bem estruturada. Eu comecei como estagiária na área de desenvolvimento de software. O que mais me chamou a atenção nessa empresa foi que, das mulheres que trabalhavam na área de TI, a maioria desempenhava funções de suporte ao cliente ou controle de qualidade de software, então, embora houvesse mulheres atuando na área, elas ficavam segregadas em algumas poucas funções.
4. E no Nubank? Como é o Nubank comparado a essas outras empresas?
Eu entrei no Nubank através do Yes She Codes. O primeiro ponto que eu gostaria de destacar é que, se não fosse pelo evento, eu dificilmente teria me candidatado a uma vaga no Nubank. Esse tipo de evento ajuda demais a quebrar a barreira de não se sentir bom o bastante para concorrer a uma vaga que muitas mulheres e outras minorias enfrentam.
Para quem quiser saber mais sobre o Yes She Codes, nesse vídeo outras mulheres que participaram do evento e hoje são nubankers falam sobre essa experiência.
O time de engenharia de software do Nubank, assim como times de TI em muitas empresas, não é tão diverso quanto poderia ser mas, a principal diferença que eu percebo aqui em comparação com outros lugares, é que isso é trazido à tona com muita frequência.
Em outras empresas existe essa desigualdade, mas ela é tomada como a normalidade e não como um problema. No Nubank somos sempre lembrados o quão importante é a diversidade e vemos ações sendo tomadas para que isso melhore.
Outro diferencial, é que no Nubank existem canais de comunicação para que as próprias mulheres do Nubank possam se apoiar. É muito legal e reconfortante saber que eu posso contar com o apoio de outras mulheres, caso eu precise, além de ter uma maior visibilidade de quantas mulheres incríveis trabalham por aqui.
5. Você acha que existe algum desafio particular que as mulheres na sua área de atuação enfrentam?
Quando existe um estereótipo para uma função, as pessoas tendem a enxergar e tratar de maneira diferente qualquer pessoa que fuja desse padrão. Esse é o caso para as mulheres trabalhando em TI. Essas diferenças são sutis e nem sempre esse tratamento diferenciado vai parecer negativo.
Eu, por exemplo, já senti que eu recebia menos cobrança e exigências sobre o meu trabalho do que os meus colegas homens. Isso pode até parecer bom, mas na realidade é um reflexo de uma expectativa menor sobre o que eu era capaz de fazer.
Acho que muitas mulheres da área acabam recebendo menos desafios que os colegas homens e, consequentemente, menos oportunidades de crescimento.
6. Tem algo que você gostaria de falar para mulheres que estejam pensando em entrar na sua área? Alguma dica, conselho ou mensagem?
Se você está pensando em trabalhar em TI, por favor venha! É uma área incrível com muitos desafios interessantes e que requer um constante aprendizado. Não importa se você é mulher, se é uma coisa que você gostaria de fazer, já tem tudo o que precisa para se sair bem. Felizmente, muitas empresas e instituições de ensino estão atuando para dar mais oportunidades para mulheres e, quanto mais mulheres atuando na área, mais rápido mudaremos essa ideia de que essa é uma profissão de homens.