Um grito silencioso por amor e atenção

Mariana era uma ilha em um oceano de marcas. Seus armários transbordavam de roupas que nunca usava, sua penteadeira de maquiagens que mal tocava e sua gaveta de joias de bijuterias que reluziam sem propósito. Ela comprava por comprar, sem critério, sem necessidade, apenas para saciar uma fome insaciável que se alimentava de embalagens e etiquetas.
A cada nova aquisição, sentia um breve prazer, uma euforia passageira que se dissipava tão rápido quanto a tinta de um grafite na chuva. Era como se estivesse tentando preencher um buraco negro com algodão doce. Mas o buraco só aumentava.
Mariana vivia em um mundo de aparências. Nas redes sociais, postava fotos sorridentes em frente a vitrines, exibindo suas novas conquistas. Mas por trás daquela fachada de felicidade, escondia uma profunda angústia.
Um dia, a conta bancária chegou ao limite. As dívidas se acumularam como um castelo de cartas prestes a ruir. A família, preocupada, a convenceu a procurar ajuda.
Foi então que Mariana conheceu uma psicóloga. Em um ambiente acolhedor e confiante, começou a desvendar os mistérios de sua alma. As sessões foram como escavações arqueológicas, revelando camadas e mais camadas de emoções reprimidas.
A psicóloga a ajudou a compreender que a compulsão por compras era um grito silencioso por atenção, um clamor por amor. Aquele vazio que ela tentava preencher com objetos era, na verdade, um vazio afetivo.
Mariana percebeu que a felicidade não se compra em lojas. Ela é construída a partir de relacionamentos autênticos, de experiências compartilhadas, de momentos simples e genuínos.
A jornada de cura foi longa e desafiadora. Mariana precisou aprender a lidar com suas emoções, a estabelecer limites e a construir uma relação mais saudável consigo mesma.
Com o tempo, as compras compulsivas foram perdendo o poder sobre ela. As roupas que antes a aprisionavam agora a libertavam para ser quem ela realmente era. A maquiagem que a escondia agora a revelava, em toda sua beleza natural.
A vitrine da vida de Mariana se tornou mais transparente. Ela aprendeu a enxergar além das aparências, a valorizar o que é verdadeiramente importante e a construir um futuro mais leve e autêntico.
E assim, a ilha solitária encontrou seu continente, e o oceano de marcas se transformou em um mar de possibilidades.
Este conto busca explorar a complexidade da compulsão por compras, mostrando como ela pode ser um reflexo de questões mais profundas e como a busca por felicidade através do materialismo é um caminho sem saída. A história de Mariana é uma metáfora para a jornada de autodescoberta e cura de muitas pessoas que se sentem perdidas em um mundo que valoriza a aparência mais do que a essência.

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Eu também já tive compulsão por compras no passado.

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Eu também já tive. Ainda tenho livros que comprei mas nunca comecei a ler.

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