Guia - Desmistificando Dividendos!
Viver de dividendos é um objetivo financeiro que muitos brasileiros possuem quando começam a investir.
Viver de dividendos é um objetivo financeiro que muitos brasileiros possuem quando começam a investir. É muito frequente esse sonho de ter rendimentos mensais que cubram todos os gastos pessoais e permitam uma aposentadoria tranquila, sem precisar mudar o próprio padrão de vida.
O grande segredo de uma estratégia de dividendos é a paciência. No longo prazo, com efeito dos juros compostos e dos aportes mensais, os rendimentos tendem a crescer de forma gradativa e exponencial. Quem consegue ter essa mentalidade de futuro pode perfeitamente aplicá-la, independente do patrimônio atual.
Afinal, o que são dividendos?
Os dividendos são uma parcela do lucro líquido apurado por uma empresa que é distribuída aos sócios em um determinado período. Essa é uma prática que tem por objetivo remunerar seus investidores — que, vale lembrar, podem ser os fundadores, mas também qualquer detentor de ações ou participação no negócio.
Essa pode, inclusive, ser uma forma de atrair novos potenciais investidores. Muitos brasileiros buscam investir em empresas que permitam uma perspectiva de geração de renda. É justamente o que oferecem algumas empresas mais estáveis, que passaram pela etapa de aceleração do seu crescimento, por exemplo.
Outro ponto importante é que, quando falamos sobre “viver de dividendos”, de uma forma geral nos referimos a ter uma renda passiva. Isto é, uma fonte de capital adicional ao que recebemos de forma tradicional — como o salário, por exemplo.
No Brasil, além da própria prática dos dividendos (que é atualmente isenta de Imposto de Renda, embora existam discussões a respeito do tema em andamento, as empresas podem fazer a distribuição de lucros via Juros Sobre o Capital Próprio (JCP)) — uma prática que traz benefício fiscal para a empresa.
Por que as empresas pagam dividendos?
Uma dúvida comum entre investidores que ainda estão aprendendo sobre o universo dos dividendos está na razão pela qual as empresas distribuem lucros aos acionistas. Afinal, não seria melhor reinvestir o capital no próprio negócio visando crescimento?
Existem alguns motivos pelos quais as empresas distribuem o seu lucro líquido. A primeira delas, já mencionada, está na própria estratégia de atrair novos investidores. Assim, ela consegue obter novos financiadores das suas atividades sem recorrer a empréstimos bancários, que são uma fonte de capital mais cara.
Além disso, há necessidade de cumprir a Lei das Sociedades Anônimas (SAs), que é o formato jurídico que uma empresa de capital aberto possui no Brasil. De acordo com as regras nacionais, toda empresa registrada na bolsa de valores com lucro líquido deve compartilhar uma parcela com seus acionistas.
O percentual a ser distribuído dependerá das regras estabelecidas no Estatuto Social da companhia, não existindo um número definido para todas as empresas. No nosso país, uma prática comum é usar o percentual de 25%, embora não seja uma regra imposta.
Por fim, é comum que empresas consideradas como boas pagadoras de dividendos sejam negócios já consolidados e com menor margem de crescimento justamente em função de um bom market share do seu mercado de atuação. Por isso, manter o capital em caixa não é tão atrativo quanto para organizações que estão em fase de crescimento.
Como receber dividendos na prática?
Você gosta da ideia de receber a distribuição de lucros das empresas de forma periódica, mas não tem a menor noção de como começar a obter essa renda passiva?
Na realidade, o processo é extremamente simples e automático. Tudo que você precisa é ter conta em uma corretora de valores, que é um tipo de instituição financeira voltada para os investimentos. Podemos dizer que é uma “prateleira de ativos” que vão além do seu próprio banco.
As corretoras também oferecem o que se chama de Home Broker, um aplicativo que permite ao investidor negociar ações (entre outros ativos de renda variável) em tempo real, precisando apenas de acesso à internet. É nesse sistema que você pode comprar ações de empresas listadas na nossa bolsa de valores.
Uma vez que você seja proprietário das ações de empresas que optem pela distribuição dos seus lucros, nada mais precisa ser feito. Tudo funciona de forma automática e você mesmo receberá o dinheiro na sua conta de acordo com a data de pagamento informada pela companhia.
Como funciona o pagamento de dividendos?
Um ponto importante em relação ao pagamento de dividendos é que ele não é aleatório. Tudo é muito organizado em função da apuração de resultados de uma empresa e o seu calendário de distribuição dos lucros obtidos.
Além disso, para ter direito ao recebimento dos dividendos de uma companhia, você precisa ser acionista no que se chama de “Data Ex”. Esse é o nome da data limite para pagamento dos lucros. Investidores que comprarem ações da empresa após a Data Ex-Dividendo, por exemplo, não possuem direito ao recebimento.
Posteriormente, nós teremos a data de pagamento dos dividendos, que é o dia exato no qual os lucros serão distribuídos. Ou seja, quanto o dinheiro cairá de fato na sua conta.
Quanto eu vou receber de dividendos?
Os dividendos são pagos em forma de um valor por ação. Esse valor é divulgado pela própria empresa ao anunciar a sua distribuição. Suponha que você possua 100 ações de uma companhia que distribuirá, na próxima semana, R$1,86 por ação. Como detentor de 100 unidades, você receberia então R$186 (1,86 x 100).
Uma boa forma de comparar empresas diferentes é por meio da métrica que se chama de Dividend Yield (DY). Ela nada mais é do que uma divisão do valor distribuído e o preço da ação. Retomando o exemplo anterior e considerando que o seu preço no dia da distribuição fosse de R$35,00, então teríamos um Dividend Yield de 5,3%.
DY = 1,86 / 35,00 = 0,05314 = 5,3%
Dividendos como estratégia de investimentos?
Neste ponto, talvez você esteja se perguntando: “bom, se os lucros são distribuídos em datas específicas, não vale a pena só comprar a ação antes da data ex-dividendos, aguardar o recebimento e vender o ativo?”.
A resposta é não! E o motivo é muito simples: estamos falando de renda variável. Isso significa que, diariamente, o preço dos ativos da nossa bolsa variam de acordo com as notícias e o interesse dos próprios investidores. Ou seja, você pode ter um prejuízo ao ter esse tipo de comportamento.
Além disso, no dia posterior ao pagamento de dividendos, o preço das ações de uma companhia tende a ser ajustado. Isso porque o dinheiro que foi pago saiu do caixa da empresa — e esse é um dos fatores de precificação de uma organização pelos investidores.
Portanto, a melhor estratégia para viver de dividendos é montar um portfólio de empresas que possuem o hábito de distribuir lucros e recebê-los periodicamente, sem tentar ficar “pescando” as distribuições aleatoriamente.
Essa prática traz dois grandes benefícios ao investidor:
Ao montar uma carteira de ações voltada para dividendos, você terá investimento em diversas companhias. Ou seja, o risco geral da sua carteira é reduzido, com exposição menor em cada negócio.
Os dividendos distribuídos podem ser reinvestidos nessas mesmas companhias, de modo que você terá cada vez mais dinheiro aportado e, consequentemente, cada vez mais dividendos distribuídos. É a famosa estratégia dos juros compostos tão utilizada por quem sabe fazer dinheiro: os bancos.
Quais são os tipos de investimentos que pagam dividendos?
Até aqui falamos muito de ações das empresas que se configuram como boas pagadoras de dividendos. E, de fato, esse é o principal tipo de ativo para esse objetivo.
Entretanto, não é a sua única possibilidade para obter uma renda passiva. Vamos conhecer algumas estratégias complementares.
ETFs
Uma forma simplificada de investir em dividendos está na utilização dos Exchange Traded Funds (ETFs) que, em suma, são fundos criados para replicar um índice e permitir que o seu dinheiro acompanhe a performance do mesmo. Para a estratégia que estamos conversando nesse guia, o melhor exemplo é o DIVO11. Ele segue o IDIV (Índice de Dividendos).
Um ponto importante é que, até a última atualização deste artigo, os ETFs tinham seus dividendos reinvestidos automaticamente. Isso é ótimo para quem segue a estratégia de juros compostos, mas impede que você tenha liberdade de usar o capital como bem entender. Há expectativa de ETFs que distribuam rendimentos para a sua conta em 2023.
Fundos de ações
Os fundos de ações são uma espécie de “condomínio de investimentos” no qual você pode alocar o seu capital e “terceirizar” a tomada de decisão para um gestor especializado. O time do fundo é responsável por escolher em quais empresas investir e negociá-las diariamente. Em troca, cobram uma taxa de administração anual (geralmente 2,0%).
Alguns fundos de ações possuem estratégias de dividendos. Isto é, eles alocam o capital dos seus cotistas em empresas que oferecem o perfil de pagamento de parte dos seus lucros. É o caso do Brasil Plural Dividendos FIA ou do Trígono Delphos Income FIC FIA, por exemplo.
Fundos imobiliários
Outra classe de ativos bem interessante para quem busca viver de dividendos são os fundos imobiliários (FIIs). Eles nada mais são do que fundos de investimentos que alocam o capital dos seus cotistas em ativos imobiliários. Contudo, há um atrativo bem interessante: eles distribuem mensalmente aos seus investidores 95% do lucro líquido apurado.
Ou seja, é uma forma de você obter uma renda passiva mensal e, no longo prazo, ter o seu “salário” originado justamente dos fundos imobiliários. A previsibilidade de caixa é um dos principais atrativos, assim como a possibilidade de recomprar mais cotas dos seus FIIs e aumentar cada vez mais os rendimentos distribuídos.
Antes de investir, entretanto, recomendamos que você estude bastante sobre a dinâmica desse mercado.
Por que existem empresas que pagam dividendos e outras que não pagam?
Como vimos logo no começo deste guia, não há uma regra sobre o percentual a ser distribuído em forma de dividendos aos acionistas no Brasil. Desta forma, nós temos empresas que pagam bons dividendos e outras que não.
Existem, em resumo, duas explicações principais para essa diferença:
Resultado financeiro: o pagamento de dividendos é uma distribuição de lucro. Logo, se a empresa fecha um período negativo, não há o que ser distribuído. Os resultados são os grandes norteadores dos rendimentos pagos.
Estratégia: dentro do ciclo de vida de um negócio existem períodos com foco em crescimento e outros de consolidação do seu mercado. O primeiro grupo tende a pagar poucos dividendos, pois usa o seu lucro para reinvestir no próprio negócio. Já o segundo, por ter uma geração de caixa mais estável, costuma pagar bons rendimentos.
Ao começar a investir em empresas pagadoras de dividendos, você perceberá também que alguns setores têm um perfil mais atrativo para a estratégia de renda passiva. Bancos e empresas de energia elétrica, por exemplo, costumam estar nesse grupo. No entanto, sempre avalie bem a companhia antes de investir para entender quais são as suas perspectivas.
2023 será um bom ano para receber dividendos?
Uma vez que os dividendos dependem dos resultados das empresas, é interessante avaliar quais são as perspectivas para 2023 em relação aos dividendos. Será um bom ano para receber rendimentos?
A verdade é que não há muito otimismo para o Brasil neste novo ciclo econômico. Estamos em um momento com altas taxas de juros, o que dificulta o financiamento e a aquisição de dívida tanto das empresas, como também por parte da população. Como consequência, o consumo fica comprometido.
Há ainda muita dúvida sobre como será a gestão econômica do novo governo eleito em 2022, principalmente quando analisamos a questão fiscal. Haverá responsabilidade? Se não, podemos ter uma elevação ainda maior dessas taxas de juros para o curto prazo.
Por outro lado, os bancos tendem a se beneficiar de taxas de juros elevadas e podem oferecer uma boa oportunidade em termos de pagamentos em uma carteira de baixo risco de crédito (chamadas de High Grade). Para bancos de menor porte, o risco de inadimplência não pode ser ignorado.
Ou seja, temos que monitorar bem o ano de 2023 para entender o potencial de retorno da sua carteira de dividendos. No entanto, não se esqueça de que investir para viver de rendimentos é um objetivo de longo prazo e, portanto, o impacto de um ano deve ser bem baixo na sua estratégia.
Referências para investir em empresas de dividendos
Para quem ainda está se ambientando com as oportunidades de investimentos orientadas para dividendos, uma ótima referência é o investidor Luiz Barsi — chamado popularmente de “Warren Buffett brasileiro”.
Você pode aprender muito com ele sobre uma estratégia de viver de dividendos. Foi isso, afinal, que ele executou e compartilha uma série de dicas no seu livro autoral “O rei dos dividendos: a saga do filho de imigrantes pobres que se tornou o maior investidor pessoa física da bolsa de valores brasileira”.
Para quem não gosta de ler, Barsi também possui algumas frases bem conhecidas e que resumem um pouco o seu pensamento sobre essa metodologia. Veja alguns exemplos (a primeira diz muito do que faz um investidor de dividendos):
“Prefiro ser um pequeno parceiro de grandes empresas do que dono de pequenos negócios.”
“O mercado sempre será receptivo para quem der início a um programa previdenciário.”
“Disciplina e paciência são dois fatores fundamentais ao investir.”
Outro nome bem relevante do nosso mercado financeiro é o de Lírio Parisotto. É mais uma excelente referência para estudos.
Imposto de Renda: os dividendos são tributados?
Até a última atualização deste artigo, os ganhos com dividendos eram isentos de Imposto de Renda. A distribuição via Juros Sobre o Capital Próprio, entretanto, segue tributável. Já para fundos imobiliários, os rendimentos pagos para a Pessoa Física também não possuem a cobrança de Imposto de Renda.
Importante mencionar que esse é o retrato até janeiro de 2023. No entanto, existem discussões em andamento para revisar essas regras e podemos ter alterações ao longo dos próximos meses.
Viver de dividendos é uma opção?
Sim! Sem dúvidas que viver de dividendos é uma opção e, por que não, até mesmo o grande objetivo de boa parte dos investidores brasileiros. No entanto, precisamos ser honestos: é um trabalho de longo prazo e que exige esforço e dedicação.
Isso porque tudo depende da sua realidade financeira. Qual é o seu custo de vida? Quanto maior o gasto mensal, maiores também será o capital necessário. Lembre-se que os dividendos pagos dependem diretamente dos resultados dos ativos e também do volume de dinheiro investido.
De qualquer forma, é uma excelente estratégia para garantir um bom fluxo de caixa no futuro e até mesmo a sua aposentadoria, sem depender de fontes terceiras como o governo.
Veja abaixo, inclusive, como essa estratégia é vencedora no longo prazo. O gráfico retirado da nossa ferramenta de comparação de ativos mostra o ganho adicional que você teria ao investir no IDIV (índice composto por empresas com perfil de dividendos) ao longo dos últimos 10 anos em comparação com o Ibovespa, nosso principal índice adicionário.
O resultado desse período é simplesmente 2,5 vezes maior, justamente em função dos rendimentos que foram distribuídos e puderam ser reinvestidos.
Portanto, o importante é começar. Hoje, você provavelmente não receberá o dinheiro que sonha para pagar todas as suas contas e viver de dividendos. No entanto, quanto mais cedo começar, maiores serão os rendimentos progressivamente até que seja possível atingir esse objetivo.
Fonte: Mais Retorno