Renda Fixa no Detalhe: Reserva Financeira!

Este tópico é o quarto de uma série sobre as características mais importantes dos principais ativos da Renda Fixa. Caso ainda não tenha visto, confira os anteriores:

Hoje trataremos dos ativos indicados para construção da Reserva Financeira, que é o ponto de partida para qualquer estratégia de investimento.

Dúvidas, sugestões ou correções, basta deixar nos comentários!


Reserva Financeira

A Reserva Financeira consiste em manter determinada quantia em uma aplicação de alta liquidez e baixo risco, para suprimento de gastos emergenciais, imprevistos, ou ainda oportunidades. O montante recomendado para esta reserva costuma ser de 6 a 12 vezes o valor das despesas mensais do investidor, dependendo do tipo de renda. Para trabalhadores formais, o montante pode ficar em torno do mínimo recomendado; para os informais ou autônomos, o ideal é que a reserva seja maior. É interessante manter a reserva em pelo menos duas instituições financeiras, para diminuir o risco de indisponibilidade em casos de falha técnica ou operacional.

Os principais fatores a serem observados nesse tipo de aplicação são:

  • Segurança : solidez da instituição financeira

  • Liquidez : possibilidade de resgate a qualquer momento

  • Rentabilidade: minimizar a desvalorização pela inflação

A seguir, destacaremos os principais ativos destinados a esse objetivo e detalharemos um pouco mais os que ainda não foram citados na série de tópicos.

CDB DI Liquidez Diária

Já apresentado anteriormente na série, recordemos algumas de suas características:

  • A rentabilidade é definida em porcentagem do CDI ao ano (Ex.: 100% do CDI a.a.).

  • Permite o resgate a qualquer momento em dias úteis, sem perda dos rendimentos. Em algumas instituições é possível efetuar resgate mesmo nos finais de semana ou feriados.

  • Também pode ser oferecido no formato híbrido CDI + taxa prefixada (Ex.: CDI + 1,5% a.a.).

  • Além do imposto de renda regressivo conforme o prazo, também sofre incidência de IOF se houver resgate antes de 30 dias, conforme tabelas regressivas:
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  • O prazo de vencimento em anos pode ser escolhido pelo investidor em algumas instituições, mas, no geral, é definido pelo emissor entre 1 e 5 anos.

  • Por ter baixo risco e alta liquidez, é um dos ativos mais adequados para manter a Reserva Financeira.

  • Atualmente, 100% do CDI costuma ser a rentabilidade mínima aceitável para esse tipo de aplicação, no entanto, algumas instituições constumam oferecer rentabilidade acima desse patamar com certa regularidade.

Conta Remunerada

As contas remuneradas não são uma novidade no mercado de produtos financeiros. Bancos tradicionais sempre ofereceram alguma forma de rentabilizar os recursos do dia a dia mantidos em conta corrente, mas, na maioria dos casos, essa rentabilidade era atrelada a um CDB progressivo ou à poupança, oferecendo um resultado bem ruim em comparação aos demais investimentos.

Com o lançamento da NuConta em 2017, o Nubank praticamente redefiniu o significado de conta remunerada, oferecendo uma conta de pagamento com liquidez diária e rentabilidade de 100% do CDI. De lá pra cá, os bancos tradicionais se adequaram ao novo padrão e novas instituições surgiram oferecendo produtos com características similares, dentre as quais, podemos destacar:

  • A rentabilidade costuma ser definida em porcentagem do CDI ao ano (Ex.: 100% do CDI a.a.)

  • A taxa DI é definida diariamente pela B3 e normalmente equivale à taxa Selic diária.

  • Podem ter lastro em títulos públicos, que dispensam garantias, ou em títulos privados cobertos pelo FGC.

  • Em bancos tradicionais, podem ser vinculadas à poupança ou outros produtos financeiros.

  • Normalmente, permitem o resgate a qualquer momento sem perda da rentabilidade, mesmo em finais de semana e feriados.

  • Sobre os rendimentos, além do imposto de renda regressivo conforme o prazo, podem ou não sofrer incidência de IOF nos resgates antes de 30 dias, conforme as tabelas regressivas.

  • Podem ou não ter um prazo de vencimento. Nas que possuem, os recursos são reaplicados automaticamente ao final do prazo.

  • Por ter baixo risco, alta liquidez e rentabilidade satisfatória, é uma opção prática e acessível para manter a Reserva Financeira.

  • Atualmente, 100% do CDI costuma ser a rentabilidade mínima aceitável para esse tipo de aplicação.

Tesouro Selic ou LFT

O Tesouro Selic, já abordado em capítulo anterior da série, é o ativo de menor risco da economia do país. Bastante demandado por investidores institucionais, é o segundo em volume na plataforma do Tesouro Direto. Vamos relembrar algumas das características:

  • A rentabilidade é definida pela variação da taxa Selic + ou - uma taxa prefixada ao ano (Ex.: Selic + 0,2080 a.a.). Essa taxa prefixada é chamada de deságio quando positiva e de ágio quando negativa.

  • O preço unitário do título equivale ao VNA menos a taxa de deságio acumulada até o vencimento. O Valor Nominal Atualizado, por sua vez, é calculado diariamente pela Anbima e corresponde a R$1.000,00 corrigidos pela taxa Selic desde 01/07/2000, quando o título foi criado.

  • A taxa Selic costuma ser 10 pontos base (0,10) abaixo da meta Selic, que é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a cada 45 dias.

  • Sobre os rendimentos, além do imposto de renda regressivo conforme o prazo, sofre incidência de IOF nos resgates antes de 30 dias, conforme tabelas regressivas.

  • Há cobrança de taxa de custódia da B3, de 0,20% ao ano, sobre os valores que excederem R$ 10.000,00. A taxa é cobrada à parte pela corretora em duas parcelas semestrais ou nos resgates.

  • Em períodos de Selic elevada, a marcação a mercado nesse título é quase irrelevante, tornando-o uma opção razoável para manter a Reserva Financeira, embora a possibilidade de resgate somente em dias úteis seja um fator contra a utilização para esse objetivo.

  • Como a taxa Selic pode sofrer alteração, a rentabilidade total será uma média ponderada das taxas durante o período em que os recursos permanecerem investidos, não sendo possível um cálculo preciso do valor a ser resgatado em determinado prazo futuro.

  • O risco desse papel, no aspecto da rentabilidade, está na capacidade do indexador vencer ou não a inflação e garantir um ganho real. Historicamente, a taxa Selic costuma vencer a inflação no longo prazo, mas pode ficar abaixo do índice de preços em períodos específicos.

Poupança

Ao contrário do que alguns investidores costumam defender, segundo a CVM e o Banco Central, a caderneta de poupança é sim um tipo de investimento. Embora não seja definitivamente o melhor e mais seguro como muitos imaginam, é a aplicação mais comum e popular, com volume total de valores depositados próximo a 1 trilhão de reais. As principais características da caderneta, são:

  • Garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até 250 mil por instituição e 1 milhão por CPF.

  • A rentabilidade é definida pela variação da Taxa Referencial (TR) mais:

    -0,5% ao mês se a meta Selic for superior a 8,5% a.a., ou

    -70% da meta Selic enquanto esta for menor ou igual a 8,5% a.a.

  • Para depósitos anteriores a 05/05/2012 a rentabilidade é de 0,5% a.m. + TR.

  • É isenta de impostos

  • A rentabilidade é mensal para pessoas físicas e entidades sem fins lucrativos e trimestral para os demais investidores. Os rendimentos são creditados apenas na data de aniversário.

  • A data de aniversário é a data do depósito. Nos aportes nos dias 29, 30 e 31 o aniversário é considerado no dia 1º do mês seguinte.

  • Não possui uma data de vencimento e o resgate pode ser feito a qualquer momento, inclusive em sábados, domingos e feriados.

  • A TR é definida diariamente pelo Banco Central e pode alterar significativamente a rentabilidade, principalmente em períodos de meta Selic elevada. Isto dificulta uma previsão da rentabilidade total em determinado prazo.

  • O risco, no aspecto da rentabilidade, está na dificuldade histórica que a caderneta tem de vencer a inflação e garantir um ganho real. Além disso, a rentabilidade do mês é perdida sempre que há resgate antes da data de aniversário.

Reserva Financeira Avançada

Estratégia recomendada somente para investidores com conhecimento intermediário ou avançado e patrimônio consolidado, consiste na utilização de aplicações que usualmente não seriam adequadas para uma reserva financeira, mas que podem cumprir esse papel em determinadas situações. Basicamente, dois ativos, já mencionados nos tópicos anteriores, podem ser usados para esse fim:

LCI ou LCA DI Liquidez após 90 Dias

  • Para utilizar essa aplicação como reserva, é necessário que o investidor já possua pelo menos metade do montante pretendido em uma aplicação com liquidez imediata como as mencionadas no tópico. Após o prazo de carência, o investidor pode migrar a outra parte do montante na aplicação com liquidez imediata para a de 90 dias.

  • A principal vantagem de manter a reserva nessa aplicação é a rentabilidade, que costuma ser melhor devido a isenção de impostos.

Tesouro IPCA+ ou NTN-B Principal

Esta estratégia é ainda mais avançada e consiste em simplesmente substituir a reserva atualmente num investimento com liquidez imediata por aplicações antigas no Tesouro IPCA+ relativamente próximas da data de vencimento.

  • É preciso que a taxa contratada esteja próxima ou acima da oferecida atualmente pelo Tesouro Direto e que o tempo da aplicação seja pelo menos duas vezes maior que o restante para o vencimento.

  • A vantagem dessa estratégia será ter uma reserva com ganho real acima da inflação e poder aproveitar os recursos que estavam em liquidez imediata para fazer novos aportes em opções de médio e longo prazo com melhor rendimento.

  • Vale lembrar que, além da possibilidade de resgate somente em dias úteis, o Tesouro IPCA+ pode ter as negociações suspensas temporariamente durante períodos de turbulência no mercado. Dessa forma, o ideal é não adotar essa estratégia para a totalidade de reserva.


IMPORTANTE :

  • o tópico NÂO é uma recomendação de investimento.

  • todo investimento possui algum grau de RISCO . Não tome qualquer decisão nesse aspecto sem conhecer todas as informações e os detalhes de cada aplicação.

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Ótimo tópico! Acho sempre muito legal quem tenta desmistificar e traduzir o que os bancos muitas vezes oferecem de forma um pouco confusa, no mínimo.

No Daycoval há um CDB com Taxa 110% CDI e outro que indica taxa “CDI + 1,20%”.
Ambos sem carência, valor mínimo 1k e com vencimento para 2024.
Mas não fica claro para mim o que é esse CDI + 1,20%? Seria 101,20% do CDI? Seria algum outro tipo de indexação?

Não sei como comparar ambos.

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Bem-vindo, @Andreyson12! Grato pelo seu comentário!

Esse tipo de rentabilidade não é rara em CDB’s com resgate apenas no vencimento, mas creio que o Daycoval foi o primeiro a oferecer essa opção com liquidez diária.
O CDI é um índice, dessa forma, você deve utilizar a taxa atual para calcular o rendimento. Portanto, o cálculo seria 12,65% + 1,20%.

No entanto, em finanças deve-se sempre utilizar a fórmula de juros compostos para somar taxas, assim, teremos: (1 + 0,1265) * (1 + 0,012) - 1 = 14,00%
Na opção a 110% do CDI a conta é mais simples: 12,65 * 1,1 = 13,91%

O opção de 110% será melhor se a taxa Selic continuar subindo, enquanto a outra opção trará um melhor resultado se a taxa básica for reduzida ou mantida no patamar atual.

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Muito obrigado @LuckPass !

Ficou claro! E obrigado por fazer a conta de forma explícita e não simplesmente cuspir os resultados. Me ajuda muito e com certeza ajuda muita gente.
Vou fazer algumas simulações aqui para ver o que vale a pena em alguns cenários de alta da taxa Selic.

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No problem! :+1:
Juros compostos não costuma ser intuitivo para a maioria das pessoas, como também não era pra mim quando comecei a me aventurar nessa jornada.

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