Ano passado, eu tive uma aula-reforço para o ENEM que um colégio particular aqui da minha cidade disponibilizou gratuitamente (aqui existem dois colégios que possuem ensino fundamental e médio: um particular e outro público). A única professora negra que eu tive na minha vida, que inclusive havia sido minha professora no 1º ano do ensino fundamental e agora estive neste reencontro com ela, é professora de História. E ela nos deu o conteúdo de História do Brasil para nos preparar para o ENEM 2019. No decorrer da aula, ela foi tocando no assunto de EUA, chegada dos portugueses, colonização e tudo mais, até que começou a fazer um paralelo da liberdade praticada e exercida nos EUA e a liberdade praticada e exercida no Brasil. A professora explicou que o conceito de liberdade - de expressão - exercida lá nos EUA está muito à frente da visão de liberdade que temos aqui, pois, quando a população se sentia explorada, esmagada, violada, eles partiam para a rua, quebravam tudo e faziam o corpo político entender que o povo tinha sentimento de revolta e que era uma molécula social só - brava, e muito brava; no Brasil, a escravidão foi abolida somente em 1888. Como que você iria se rebelar antes disso - e mesmo depois - ? E iria se sustentar com o que? Você corria risco de morrer caso levantasse a voz para o seu senhor. Em 1872, de 9mi de brasileiros, 1,5mi eram escravos. Nos EUA, eles buscaram integrar os escravos na sociedade; no Brasil, não. Não fizeram nenhuma orientação ou reforço para isso. O que ocorre hoje nos EUA, a forma de manifestação, é resultado de um passado repleto de manifestações, investimento em Educação, uma forte cultura pelo trabalho e uma Constituição criada em 1787, século XVIII. Em síntese, ela foi pegando fatos e base teórica para nos dizer que a liberdade lá na América do Norte está em outro patamar; aqui fomos reprimidos à violência física, tortura, castigo; e não se tinha boas condições de vida e salário para se sustentar e ir no hospital e poder pagar pelos remédios que ajudariam você a se recuperar das lesões sofridas, nem infraestrutura ou acesso universal.
Outro ponto importante é que os EUA foram “criados”, digamos assim, colonizados, por ingleses que foram expulsos da Europa. O certo seria para não nos americanizamos, o que eu considero um preconceito de uma certa perspectiva identitária, porque o mundo reconhece o cidadão americano como o cidadão dos EUA, só. Isso apaga a identidade de todo o continente americano - ofusca. A América é Brasil, Chile, Costa Rica, Uruguai, Venezuela, Cuba, etc. Somos os Latinos, Sul-americanos; portanto, eles estão no norte do continente americano, logo eles são os norte-americanos. Tem até uma parada com a música “This is América” que o pessoal anda criticando: que o norte-americano enxerga na América somente os EUA. E é isso o que dá ter uma das maiores economias globais: você é o centro das atenções. Então, de certo modo, com a colonização inglesa, os “EUA” foram meio que europeizados, mas o Brasil também, com uma característica muito mais europeia do que os ingleses… houve a miscigenação dos povos africanos também, holadeses, índios, europeus… No enfim, ter a liberdade de expressão que tem o norte-americano não é uma ofensa se for considerar como ocorreu essa transformação pelo passado histórico. O ruim é americanizar a cultura brasileira em um sentido mais “American way of life”, o estilo de vida [norte]-americano. Um argumento de um professor de história que tive, do colégio mesmo, é que lá os vizinhos ficam cuidando o jardim do outro para deixar melhor do que o do vizinho, ou seja, eles não olham para fora, não precisam, querem cuidar e trabalhar por eles; aqui, a gente olha pra fora, para eles, para o estilo de vida norte-americano. E como não olhar? Como não querer? O custo de vida, as condições de vida, lá são melhores do que as que temos aqui (se você não for negro de classe de classe baixa). No entanto, outro fator da dominação norte-americana é o patriotismo. Você vê em um monte de vídeos aleatórios bandeiras esticadas na área da casa das pessoas e em cada sala de aula.
A questão central que eu queria ter levantado aqui era o processo histórico de construção da liberdade dos povos (EUA x Brasil).
O racismo é uma questão social muito frágil nos EUA, pois no século passado ainda houve muita guerra sobre isso e, aliás, hoje estamos presenciando pelas redes uma guerra pelos direitos civis, pelos direitos de igualdade racial…
Ps.: corrijam, complementem, por favor. ^^
#vidasnegrasimportam
#blacklivesmatter